Um ano e meio atrás o SEBRAE lançou um relatório de pesquisa baseada nos dados do PNAD Contínua do IBGE, referentes a 2018 e juntando informações de cerca de 200 mil pessoas, com o objetivo de comparar empreendedores formais e informais. O estudo nos oferece uma leitura primária da informalidade, sem trazer respostas de causalidades ou correlação estatística, mas vale a pena para identificarmos algumas tendências e pensarmos em hipóteses.

Destaco aqui os principais pontos que chamaram a minha atenção, mas para quem quiser ler as análises todas, o relatório se encontra em anexo deste artigo!

71% dos donos de negócio são informais

O PNAD estima o total de donos de negócio no Brasil a 28,4 milhões, quase metade do número do Global Entrepreneurship Monitor. Essa grande diferença pode se explicar por divergências no conceito de empreendedor e da própria percepção dos entrevistados pelo IBGE sobre esse termo. Por tanto, antes de entrar em demais análises, é importante ressaltar que a taxa de informalidade no Brasil pode ser maior do que 71%.

Dito isso, o SEBRAE divide o universo dos donos de negócios entre duas categorias: empregadores e empreendedores por conta própria, impactados de maneira bem distinta pela informalidade. Somente 20% dos empregadores são informais, contra 81,3% dos empreendedores por conta própria. Como o número total de empreendedores por conta própria é bem maior, acaba puxando a informalidade geral do Brasil para cima.

Também, observamos que os diferentes setores lidam com realidades distintas: a informalidade é maior para o setor agropecuário (92%) e menor no caso do comércio (57%). Cruzando com o local de trabalho dos empreendedores, vemos que mais de 90% dos donos de negócio que trabalham em área pública, em seu domicílio ou em uma fazenda não são formalizados.

O Norte e o Nordeste são as regiões que apresentam as maiores taxas de informalidade, respectivamente 88% e 83% das suas populações empreendedoras. Inclusive, olhando o mapa do Brasil, descobrimos que quanto mais subimos em direção ao Norte do país, mais a informalidade cresce (ou o nível de formalização diminui):

Jovem, negro e de baixa escolaridade…

Os dados da PNAD Contínua também permitem cruzar essas informações com outros dados demográficos da população. A idade dos empreendedores não apresenta uma correlação tão direta com a formalização dos seus negócios, porém, os jovens de até 25 anos de idade são os mais impactados: 85% deles são informais. Vários fatores podem entrar em jogo: empreendimentos em estágios ainda muito iniciais (ideação, primeiras vendas), poucos recursos para estruturar o negócio e também o motivo para empreender (os jovens são os mais afetados pelo desemprego) podem explicar esse número.

O nível de formalização cresce com a escolaridade: começando com 3% para quem não tem instrução e subindo até 57% para quem tem ensino superior. De novo, relembramos que nenhuma relação de causalidade ou mesmo de correlação foi estudada. Contudo, esse dado nos mostra a importância de incentivar políticas públicas e soluções de formalização para os segmentos da população com menor grau de escolaridade, principalmente quando adicionamos a questão de proteção social desses grupos.

Outra informação gritante apresentada no relatório: somente 19% dos donos de negócio negros são formalizados contra 40% dos brancos. Precisamos aqui refletir sobre os mecanismos institucionais e a interseccionalidade entre pobreza e etnia no Brasil que levam a este resultado. A questão é ampla e complexa, e para quem tem interesse em se aprofundar, vou deixar aqui o link para o episódio dessa semana do Café com Empreender 360: Racismo no empreendedorismo.

Por fim, o nível de formalização cresce junto com o rendimento médio mensal do empreendedor. Pegando os extremos, vemos que 8% dos que ganham até 1 salário mínimo são formalizados, contra 76% dos que ganham 5 salários mínimos ou mais. Duas dinâmicas podem se apresentar atrás disso: 1/ empreendedores menos estruturados conseguem retirar uma renda menor, 2/ empreendedores com mais renda conseguem estruturar melhor seus negócios.

 

Pronto! Eis a minha lista de informações mais chamativas da minha leitura. O relatório é rico de gráficos e dados, acho que pode ser mais esclarecedor ainda se tivesse a informação de tipo de formalização também. E você? O que se destaca para você no relatório?