Dados mostram que dos 52 milhões de empreendedores no Brasil, cerca de 30 milhões são mulheres. Mesmo sendo maioria, especialista elenca problemas históricos e culturais que afetam o público feminino na hora de criar ou gerenciar um negócio.

Mais da metade das pessoas que empreendem no Brasil são mulheres, segundo diversas fontes de dados como o Global Entrepreneurship Monitor (GEM). Diante dessa informação, qual a importância de pensar metodologias, promoção e execução de projetos olhando para esse recorte de gênero? Helena Casanovas Vieira, co-fundadora da Aliança Empreendedora, no mês das mulheres, problematiza e aponta caminhos para o ecossistema empreendedor atuar em prol da paridade de gênero no setor.

“É interessante destacar que são as mulheres que mais buscam capacitação para melhorar a gestão dos seus negócios. Mesmo assim, ainda são os empreendimentos delas que geram menos postos de trabalho e têm faturamento menor em relação aos dos homens. Notamos que a gente não aborda com elas esses pontos de gargalo”, analisa Helena.

A especialista observa que há uma enorme lacuna de desigualdades entre os gêneros. Atualmente, mesmo após conquistar vários direitos, elas enfrentam jornadas diversas de trabalho: saem para garantir renda, cuidam da vida doméstica, educam seus filhos e etc. “Acho que é por uma questão estrutural. Enquanto as organizações não pensarem especificamente no que as mulheres enfrentam, não vamos conseguir recuperar esse gap [em livre tradução para o português, significa lacuna ou brecha].”

Superação dos gargalos

A Aliança Empreendedora, que atua com um público de mais de 75% feminino, trabalha para tentar sanar alguns dos desafios apontados por Helena, como a questão da competitividade e a autoconfiança.

Acreditar no potencial de seu trabalho, conforme Helena, é algo trabalhado pela Aliança no dia a dia. Segundo ela, mesmo com as competências necessárias para empreender, a insegurança pode ser uma barreira paralisante para esse público, como, por exemplo, em momentos de reconhecimento de suas ideias e atuação. 

“A cultura de que as mulheres não vão conseguir algo impacta nas oportunidades que elas vão acessar. É algo que acontece com o crédito, por exemplo. As mulheres aplicam menos. Se as organizações não trabalham esses pontos básicos, como a autoconfiança, a gente não consegue alcançar e superar esse gap. Temos mais mulheres empreendendo, todavia com mais inseguranças.” 

Para Helena, as capacitações voltadas para o público feminino devem trabalhar, especialmente, a autoconfiança, visão de futuro e a eliminação do medo de arriscar.

Alternativas

O empreendedorismo é uma ferramenta de independência financeira para as mulheres, principalmente àquelas que vivem em relacionamentos abusivos ou em situação de violência doméstica. Para 87% dos entrevistados pela pesquisa Violência Doméstica contra a Mulher na Pandemia, dos Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, a pandemia de Covid-19 fez com que a violência contra mulheres aumentasse. 

E mesmo antes desse cenário pandêmico e de aumento da violência contra as mulheres, Helena observa que o divórcio, após a conquista da independência financeira, gera preocupação por conta do impacto negativo principalmente na educação dos filhos, pois a renda costuma despencar drasticamente. Por isso, ela destaca o fortalecimento, primeiro, das finanças. 

“O empreendedorismo é uma ferramenta superpotente para as mulheres saírem de casamentos nos quais não estão felizes ou nos quais estão sofrendo algum tipo de violência. Mesmo assim, uma consequência comum, principalmente para as mulheres que decidem se separar, é ficarem com uma carga mais pesada de trabalho.”

E essas questões pontuadas pela especialista não estão sempre presentes em materiais ou em cursos, e sofrem variações a depender de cada caso. Nos momentos de capacitação, segundo Helena, é importante provocar o público sobre a necessidade da distribuição da jornada doméstica de maneira igualitária. “A gente procura incentivar as mulheres a dividir bem o tempo e se apoiarem em pessoas que incentivam suas jornadas, e que não as desmotivem”, conta a co-fundadora da Aliança.

Olhando para as mulheres no ecossistema

– O Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras no mundo;

– Dos 52 milhões de empreendedores no Brasil, aproximadamente 30 milhões, 48%, são mulheres;

– Entre os microempreendedores individuais (MEI), as mulheres representam 48% do total, que atuam mais nos segmentos de beleza, moda e alimentação;

– O número de empresárias aumentou 40% no último ano. De todas as donas de pequenos e médios negócios do país, cerca de 26% abriram suas empresas durante a pandemia.

Fontes: Rede Mulher Empreendedora (RME), Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)

Para se aprofundar no assunto, confira:

Mulher Empreendedora: uma resposta aos impactos da pandemia de Covid-19 é uma parceria entre a Prefeitura de Niterói, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Aliança Empreendedora, que capacitou e apoiou mulheres da cidade de Niterói (RJ) em empreendedorismo como ferramenta de empoderamento econômico e desenvolvimento social. 

O relatório anual “Empreendedorismo no Brasil 2020” do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), destrincha, em detalhes, informações sobre o setor desde os anos 2000, especialmente sobre os públicos femininos e masculinos.

Negócios liderados por mulheres foram os mais impactados pela pandemia, segundo o Data Nubank. Confira a análise.

Investir nas mulheres é investir no desenvolvimento socioeconômico do Brasil: Especialistas e pesquisas apontam que o empreendedorismo contribui para a superação da violência doméstica. Na pandemia, houve forte fluxo de fechamento e abertura de negócios chefiados por mulheres.