A saúde financeira dos donos de negócio, principalmente dos de baixa renda, é um dos principais pilares da inclusão produtiva. Não é a toa que várias políticas públicas como o microcrédito (ou mais recentemente o corona voucher) foram implementadas nos últimos anos como estratégias de luta contra a pobreza.

Porém, o dinheiro - por si só - não faz mágica! Precisa ainda saber como usá-lo da melhor maneira. Em maio de 2018, o SEBRAE publicou uma pesquisa realizada com 1.000 empreendedores MEI sobre seus hábitos financeiros. Estudos como esse nos permitem entender melhor as dificuldades e barreiras que encontra este público e pensar em diretrizes e soluções para resolvê-las.

Por isso, vamos destacar aqui os principais resultados da pesquisa e, para quem desejar aprofundar, estamos anexando o relatório completo neste artigo!

36% dos entrevistados não estão satisfeitos com o resultado financeiro do seu negócio (e 50% sim!)

Satisfação é um sentimento muito subjetivo, cada um tem a sua própria percepção: alguns se contentam com "pouco", outros correm atrás de "muito". Mas de maneira geral, o resultado financeiro de um negócio vai depender de dois principais fatores: o controle dos gastos e o controle das receitas.

Controle dos gastos: que tal usar meios digitais e definir pró-labore?

É o que nos mostra o SEBRAE: a maioria dos empreendedores entrevistados costumam acompanhar com frequência seus gastos. Ainda há pouco uso de meios digitais para isso visto que metade usam caderno para anotar as saídas. Sabemos que o acesso a equipamento e conexão de qualidade, bem como o conhecimento e inclusão digital, ainda são desafios por parte desse público, principalmente quando a gente foca em um recorte de comunidade ou de faixa etária mais velha. Porém, as possibilidades de armazenar, analisar e garantir a segurança dos dados aumentam com o uso de software e aplicativos.

Também 51% não retira pró-labore, ou seja não definem um salário fixo para si mesmo. Esse costume leva geralmente donas e donos de negócio a misturar finanças pessoais e finanças do empreendimento: as contas pessoais saem do caixa do negócio sem identificação própria. Por outro lado, a qualidade de vida da pessoa vai flutuando junto com o sucesso do negócio (ou seu fracasso). A definição de um pró-labore é mais comportamental. Através das capacitações e cursos da Aliança Empreendedora, percebemos que geralmente é um divisor d'água para o empreendedor, juntamente com a precificação dos seus produtos.

Controle das receitas: um pouco mais ausente na conta

Ao contrário das despesas, o estudo do SEBRAE mostra que os empreendedores não controlam com tanto zelo suas receitas. Pode até parecer paradoxal quando tratamos de "satisfação de resultado financeiro". Uma das explicações que encontramos no relatório vem também das ferramentas digitais (não usadas): enquanto 91% dos entrevistados aceitam dinheiro vivo, somente 44% aceitam cartões. É bom relembrar aqui que estamos falando de empreendedores MEI, ou seja, se formos olhar para trabalhadores por conta própria informais, essa porcentagem deve cair drasticamente.

Metade acompanha ao menos uma vez por semana o saldo do seu caixa, tendo uma percepção da sua situação financeira geral, mas perde a informação das receitas, limitando-se nas possibilidades de melhorar seus processos de venda.

68% não tinham previsão para o próximo mês.

Olhando para o contexto maior e sua capacidade de planejamento, vemos também uma oportunidade para os empreendedores crescerem. 77% dos entrevistados nunca fizeram um curso em educação financeira, ou seja, a grande maioria gerencia suas contas na base da sua própria experiência prática.

 

Fica então uma reflexão: e quando uma crise chega, como fica? Bem, já temos uma noção de como a crise do coronavírus está impactando os micro e pequenos: muitos não tinham reserva para além de 1 mês. Provavelmente a satisfação desses mesmos empreendedores não seria tão alta quanto em 2018.

Como ecossistema, podemos então pensar em como potencializar os nossos cursos de educação financeira tanto no alcance dos alunos (como atrair os empreendedores para dentro das salas, que sejam presenciais ou virtuais) quanto no conteúdo (repassar técnicas de uso de ferramentas digitais, definição de pró-labore, poupança).