A seguir, um artigo escrito pelo Lucas Felippe – CEO da Cooltivando e Engenheiro Agrônomo, dando continuidade ao Café com Empreender 360 que gravamos juntos para falar sobre pequenos produtores familiares.

Pouco se sabe sobre as origens da agricultura familiar brasileira, pois muitos livros conta a narrativa na perspectiva das grandes produções extrativistas, como o ciclo do açúcar, ciclo do café e da borracha exemplificam esse fato. Porém, recentemente a historiografia vem buscando entender e evidenciar a importância do camponês na construção social do nosso país. Dentro desses estudos foi encontrado que a agricultura familiar brasileira ela se constitui de 5 “grupos”:

a) Os índios: Povos originários dessa terra ao qual foi batizado de Brasil, durante a colonização foram escravizados e deixados a margem da sociedade;
b) Os escravos africanos: Povos do continente africano, sequestrados por colonização européia e trazidos para o Brasil para trabalho escravo;
c) Os mestiços: Povos oriundo de violência e relacionamentos entre europeus e africanos ou índios;
d) Os brancos não herdeiros: Filhos não primogênitos sem direito às terras de herança de seus pais expulsos das propriedades caso não concordassem com as diretrizes da fazenda;
e) Os imigrantes europeus: Herdeiros e proprietários das terras extrativistas e detentores de maior parte da economia gerada no país.

Mercado atual dos pequenos produtores

O mercado para agricultura familiar baseado no contexto histórico das colonizações se desenhou de uma forma onde os Brancos não herdeiros e os imigrantes europeus obtiveram mais de 80% das comercializações internas de alimentos, pois as produções dos índios, escravos e mestiços após o fim da escravidão, não eram aceitas nas centrais de abastecimentos do país (as famosas CEASAS como são chamadas hoje em dia), além disso as divisões de terras para produção eram desiguais, pois após a libertação dos escravos, alguns ainda continuam nos engenhos, pois não tinham pra onde ir ou um pedaço de terra para produzir, porém outros se juntavam em comunidade e ocupavam espaços de terra não dominados por europeus e de certa forma ilegalmente perante a lei estabelecida pelos próprios imigrantes europeus, lei a qual fornecia terras para os brancos não herdeiros sem custos. Hoje o maior ganho financeiro da agricultura familiar são as compras institucionais pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), uma conquista de política pública que fortalece os pequenos produtores rurais com alguma renda fixa por ano, além de alimentar milhares de crianças com alimentos locais e uma porcentagem orgânica.

Agricultura familiar e o Digital 

A agricultura familiar tem uma relação com o digital muito distante, apesar dela estar já no digital por meio das redes sociais, essa comunidade social infelizmente não se identifica como parte desse mundo eletrônico. Alguns dados pelo censo IBGE 2018 informa que 96% dos agricultores familiares utilizam o Whatsapp para comunicação entre familiares e cooperativa, porém seu uso autônomo para comercializar é pouco efetivo.

Por que devemos apoiar os pequenos produtores? (Como vamos comer amanhã?)

Nossa alimentação mundial é centrada em 5 culturas: Batata ; Arroz; Soja ; Trigo e Milho. Esse modelo alimentar foi moldado conforme as grandes produções pecuaristas de suínos; bovinos e aves, foram se intensificando ao longo do tempo. Porém somente esses alimentos não são suficiente para nossa nutrição alimentar segundo a FAO. Contudo a agricultura familiar possui uma diversidade muito maior em alimentos produzidos, para vocês terem noção 10.000 m² de terra produzindo soja gera 3,5 toneladas de grãos por ano, mas nesse mesmo espaço de terra produzindo alimentos hortícolas geram de 20 – 100 toneladas por ano dependendo da cultura. Além de ser bem mais produtivo, a agricultura familiar gera biodiversidade no solo, ou seja, ela aumenta a ecologia ao entorno da produção e isso contribui para manutenção biológica do planeta diminuindo efeitos climáticos como o aquecimento global.