Especialistas e pesquisas apontam que o empreendedorismo contribui para a superação da violência doméstica. Na pandemia, houve forte fluxo de fechamento e abertura de negócios chefiados por mulheres.

As datas comemorativas são escolhidas para rememorar eventos históricos, importantes conquistas ou lutas que ainda estão sendo travadas por um grupo. A partir dessa definição básica presente no Wikipédia pode-se dizer que naquele 19 de novembro de 2014, quando foi instituído o Dia Global do Empreendedorismo Feminino, almejava-se visibilizar equidade de gênero no mundo dos negócios, aqui especificamente no microempreendedorismo. E ainda busca-se esse objetivo.

A Organização das Nações Unidas (ONU), uma das idealizadoras da data, destacou, naquele momento, a necessidade de celebrar a mulher que empreende e gera impacto na economia. O Brasil sobressai no mundo por ter uma forte presença feminina no ecossistema empreendedor. Mas, ao esmiuçar os dados, as mulheres ainda enfrentam um ambiente social e empresarial menos acolhedor e favorável em relação aos homens. 

“Num país em que 99% das empresas são micro e pequenas, e pouco mais da metade são comandadas por mulheres, e num contexto de pandemia, que levou a um fechamento massivo de negócios delas, principalmente das camadas mais vulneráveis, é necessário colocar esforços para que microempreendedoras tenham estrutura e rede de apoio para empreender, pois o impacto é exponencial, já que estamos falando de pelo menos 20 milhões de empreendimentos formais e informais”, explica Lina Useche, co-fundadora e CEO da Aliança Empreendedora

O relatório anual “Empreendedorismo no Brasil 2020” do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), apoiado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), mostra que a pandemia afetou, principalmente, as  mulheres – com  forte  fluxo  de  entrada e saída delas dos negócios. 

O efeito pandemia e a carga extra de trabalho

A pesquisa anual “Mulheres Empreendedoras 2021”, realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, detalha, a partir de mais de 2.700 entrevistas, os impactos da pandemia de Covid-19 sobre a vida do público feminino. Mais de 50% das empreendedoras com filhos alegaram que o fechamento das escolas impactou suas rotinas de trabalho, principalmente para aquelas com filhos de três a 11 anos.

Outro dado importante é que 79% das empreendedoras consultadas acreditam que os cuidados com a casa e a família afetam mais as mulheres do que os homens que buscam empreender. “Muitas mulheres ainda não têm apoio e reconhecimento de que seus negócios, ainda que pequenos, fazem parte de um ecossistema potente e que gera muita riqueza” , comenta Ana Fontes, fundadora e presidente da Rede e do Instituto Rede Mulher Empreendedora.

Mesmo em meio a um cenário com tantas tarefas cotidianas, o estudo mostra que 26% das mulheres entrevistadas iniciaram o seu negócio atual durante a pandemia. Já de acordo com o levantamento do GEM, o número de mulheres que entraram no mundo do empreendedorismo cresceu 40% nesse período, sendo que 44% delas são chefes de família. 

Empreededorismo contra a violência doméstica

No último ano, durante a pandemia, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos sofreu algum tipo de violência no Brasil, de acordo com pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada no mês de junho deste ano. Isso representa que cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. Em 2019, a porcentagem foi de 27,4%.

Entre as empreendedoras essa problemática não é diferente. De acordo com a publicação “Mulheres Empreendedoras 2021”, 34% das mulheres ouvidas sofreram algum tipo de agressão em relações conjugais. Constituírem os seus próprios negócios, todavia, se torna, conforme a pesquisa, uma porta de saída para os relacionamentos abusivos e violentos.

81% das mulheres consultadas concordam que empreendedoras têm mais autonomia na vida, e, por isso, são mais independentes em suas relações conjugais, e, ao empreender, 48% delas afirmam terem conseguido sair desses relacionamentos. 

“De forma geral, as mulheres se sentem mais independentes, confiantes e seguras quando têm uma geração de renda própria, permitindo que ela mude sua condição dentro de relacionamentos abusivos” , comenta Ana Fontes.

De encontro com Ana, Lina acredita que quando se investe em capacitação das mulheres, além do crescimento individual, tem-se também benefícios nos núcleos familiares e na comunidade. “Estima-se hoje que 45% das mulheres empreendedoras também são chefes de família. Mudar a vida de uma empreendedora hoje é melhorar a realidade do país a longo prazo”, destaca.

Por isso, a CEO da Aliança acredita que investir nas mulheres é um dos caminhos para o desenvolvimento social e econômico do Brasil.

Eventos onlines e presenciais sobre o tema:

– O Sebrae de São Paulo realiza uma série de eventos em comemoração ao Dia Global do Empreendedorismo feminino. O primeiro, no próprio dia 19, será realizado em Barueri em parceria com a Secretaria da Mulher. Já os demais acontecem entre 22 e 26 de novembro e são voltados ao incentivo ao empreendedorismo para mulheres com deficiência. Em ambos os casos, haverá transmissão ao vivo.

– A Prefeitura de Uberlândia realiza, a partir das 14 horas de 19 de novembro, uma mesa redonda presencial para discutir sobre a temática e incentivar a conexão entre mulheres e os negócios geridos por elas. São 100 vagas disponíveis com carga horária de três horas. As inscrições podem ser feitas pela plataforma Sympla.

– A 10ª edição do Fórum Rede Mulher Empreendedora começou no dia 17 de novembro e segue até o dia 19, sempre entre às 09h e 18h, com transmissão online por meio do site oficial do evento. O evento conta com a participação de dezenas de empreendedoras e personalidades.