Para Mariana Rodrigues, da Aliança Empreendedora, a iniciativa é apenas uma das soluções para o fortalecimento do microempreendedorismo no Brasil e precisa se somar a políticas públicas voltadas ao setor.

Capacitação e acesso a crédito são as principais oportunidades para organizações que se dedicam a incentivar e fortalecer o microempreendedorismo no Brasil. Esta última foi especialmente impactada frente ao cenário de incertezas trazido pela pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo em que o microempreendedor se viu mais dependente desse tipo de crédito para enfrentar o período de crise, ele também se deparou com uma maior cautela por parte das instituições financeiras.

O resultado foi uma desaceleração no número de concessões de microcrédito em 2020 em comparação com o ano anterior – ainda que o crescimento da modalidade tenha superado o de outras, como cheque especial e empréstimo consignado. O saldo da carteira de microcrédito subiu 16,5% e o número de concessões avançou 12,7%, segundo dados do Banco Central (BC). Em 2019, esses resultados foram 30,5% e 31,8%, respectivamente.

O universo das chamadas micro e pequenas empresas (MPEs) no Brasil é composto por 9,8 milhões de microempreendedores individuais (MEIs), 6,6 milhões de microempresas (MEs) e 900 mil empresas de pequeno porte. Os dados são de um estudo que revela uma lacuna de crédito entre a demanda potencial de MPEs e a oferta anual de crédito pelas instituições financeiras da ordem de R$ 202 bilhões.

Ou seja: os pequenos negócios precisaram de mais e obtiveram menos. Vale lembrar que esses dados não consideraram os auxílios emergenciais e apoios financeiros pontuais de iniciativas privadas que ocorreram desde a pandemia. 

Em entrevista ao Valor Investe, o líder da pesquisa e coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Lauro Gonzalez, falou sobre esse cenário e levantou um ponto importante: a necessidade da criação de políticas públicas que respondam melhor ao aumento da demanda em momentos de crise. 

Microcrédito orientado

Para Mariana Rodrigues, coordenadora do programa Empreender 360, da Aliança Empreendedora, no entanto, a tarefa das organizações que atuam para dinamizar o setor do microempreendedorismo no Brasil vai além da oferta de capital. “O microcrédito por si só não é sinônimo de inclusão ou garantia de desenvolvimento do pequeno negócio. Ele precisa vir atrelado a outras soluções e também a políticas públicas que fortaleçam o microempreendedor.”

A reflexão de Mariana se soma a de outros especialistas do setor que defendem que a orientação financeira em conjunto com a oferta de microcrédito tem papel fundamental na pauta da inclusão produtiva, considerando que o setor é composto majoritariamente por empreendedores com baixa escolaridade e excluídos do sistema financeiro.

Nesse sentido, os agentes de crédito são peças-chave na direção de propiciar um empréstimo que gere transformação social ao auxiliar o empreendedor a melhorar o desempenho de seu negócio e desenvolvê-lo permanentemente. Essa consciência, inclusive, já mudou um pouco o cenário das ofertas de microcrédito. 

Nos últimos anos surgiram organizações sociais, startups e fintechs que ofertam apoio financeiro atrelado a outros pré-requisitos – que não apenas formalização ou garantias fora da realidade do microempreendedor brasileiro. E que também colocam esforços em melhorar as taxas e apoiar o negócio de ponta a ponta com cursos, assessorias que direcionam melhor o uso do crédito e seu pagamento na sequência. “Esse já é um bom começo para essa necessidade de olhar o microcrédito como parte de algo maior”, explica Mariana.

Da demanda à oferta: um passo a passo para conseguir (e oferecer) crédito

Organizada pela Aliança Empreendedora para apoiar os microempreendedores, a cartilha Como conseguir crédito para o seu negócio

sintetiza cinco passos para um acesso a microcrédito planejado e eficiente:

  1. Analisar a real necessidade de um empréstimo;
  2. Analisar se você precisa de empréstimo ou se há outras formas de conseguir o dinheiro;
  3. Planejar seu empréstimo;
  4. Pesquisar as opções de crédito disponíveis;
  5. Acessar o crédito, investir o recurso e fazer o pagamento das parcelas em dia.

Em cada passo, o documento oferece roteiros e insumos detalhados para auxiliar o microempreendedor na tomada de decisões e pesquisa pela opção mais conveniente para o seu negócio. Nesta parte de opções, é possível encontrar uma lista com os diferentes tipos de organizações que oferecem créditos e suas condições e modo de operar. Por fim, o material também pode ser utilizado por organizações que apoiam microempreendedores por meio da oferta de microcrédito para realizar um trabalho de orientação financeira.

Saiba mais
A cartilha Como conseguir crédito para o seu negócio pode ser acessada neste link.

Confira ainda três episódios da série Café com Empreender 360 sobre temas relacionadas ao tema:

Desafios do acesso a microcrédito para empreendedores de baixa renda

Fundos de crédito para microempreendedores

Linhas de crédito para os micro: dá certo?